"Bed Rotting”: descanso ou armadilha moderna para o cérebro?
- Rafael Maisonnette de Araujo
- 3 de abr.
- 3 min de leitura

Deitar na cama o dia todo pode até parecer um ato de autocuidado. Afinal, quem nunca sentiu vontade de se esconder do mundo por algumas horas sob as cobertas, com o celular na mão ou uma série de fundo? Mas quando esse hábito vira rotina, ele deixa de ser descanso e passa a ser um sinal de alerta.
Nas redes sociais, o termo “bed rotting” ganhou popularidade entre jovens que relatam ficar longos períodos na cama, acordados, consumindo conteúdos ou simplesmente “sem fazer nada”. A ideia, muitas vezes romantizada, é a de se permitir parar — o que, em si, é importante. O problema é quando o corpo busca alívio, mas encontra exaustão.
O que acontece no cérebro?
Ficar na cama sem dormir, exposto à luz da tela e estimulação constante, desequilibra os sistemas que regulam o bem-estar. A dopamina, por exemplo, está relacionada à motivação e ao prazer. Estímulos rápidos e contínuos, como vídeos curtos ou rolagens infinitas no celular, aumentam a liberação de dopamina de forma artificial. O resultado? Uma sensação passageira de prazer, mas uma redução da sensibilidade ao longo do tempo. O que antes entretinha, passa a entediar. E o cérebro pede mais, num ciclo de busca por estímulo — e perda de energia.
Já a serotonina, neurotransmissor fundamental para o humor, o sono e a sensação de bem-estar, depende de uma rotina ativa, exposição à luz natural e movimento. Passar o dia na cama, sem essas variáveis, reduz a produção e o equilíbrio dessa substância. O cansaço aumenta, o humor oscila, e a sensação de desânimo se intensifica.
Mais exausto do que descansado
O corpo pode até estar imóvel, mas a mente continua ativa — muitas vezes sobrecarregada. Esse “falso descanso” engana: ao fim do dia, a pessoa não se sente mais disposta, mas sim mais apática, mais distante de si mesma e de suas metas. A produtividade cai, o sono noturno se desregula e até a autoestima pode ser afetada.
Isso acontece porque o bed rotting frequentemente atua como um comportamento de evitação. Evita-se o desconforto, o estresse, os compromissos… Mas a longo prazo, esse alívio vira um reforço negativo, que alimenta ainda mais o ciclo da estagnação.
Quando o corpo pede pausa — e quando está gritando por ajuda
Todos temos dias em que o descanso é necessário e legítimo. O problema é quando essa pausa vira fuga. Se você se vê constantemente deitado por horas, sem conseguir sair da cama, mesmo sem sono, talvez o que esteja em jogo não seja apenas cansaço físico — mas emocional.
Sentimentos de culpa, ansiedade, falta de motivação ou um vazio persistente podem estar por trás desse comportamento. E, nesses casos, a orientação de um psicólogo pode ser essencial para compreender o que está acontecendo e resgatar estratégias mais saudáveis de enfrentamento.
Como descansar de verdade
Estabeleça uma rotina que diferencie descanso e sono: evite passar horas acordado na cama.
Movimente-se de forma leve, mesmo que por alguns minutos ao dia.
Reduza a exposição às telas antes de dormir e, se possível, busque a luz natural durante o dia.
Pratique técnicas restauradoras, como a respiração consciente ou o mindfulness.
Reflita: o que você está tentando evitar quando escolhe se deitar?
Desligar-se do mundo às vezes é necessário. Mas se o mundo está todo dentro da sua cama, talvez seja hora de levantar. O descanso real é aquele que nos reconecta com a vida — e não o que nos afasta dela.
Se você sente que esse hábito se tornou frequente e está afetando sua qualidade de vida, buscar ajuda psicológica pode ser um caminho importante para recuperar o equilíbrio e o bem-estar.
Rafael Maisonnette de Araujo
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